cupins...
Nós... órbitas do sistema:. Via láctea, sistema solar,
terra, hemisferio sul, brasil, são Paulo, são carlos, santo André, parque das
nações, naps2...nós, órbitas do corpo, olho, córnea, íris, cristalino, vítreo,
nervo ótico, quiasma, intercruzamentos... nós
...gravamos
em muitas gravidades.
Nosso
Universo é composto de várias quebradas, podemos dizer o UNIVERSO é complexo,
as vias por onde circulamos, onde ocupamos, são de múltiplos referenciais,
formas abertas em constantes diálogos... culturas. Tudo que é do humano é
cultura. Tudo que sabemos foi e é aprendido com o outro, a via é a cultura.
Saber que há o outro é cultura.
Eu e o mundo.
Eu e os outros. O mundo e os outros... somos nós, nós na cultura.
Pedimos licença às normas academicamente empregadas,
pois, para que a gente possa de verdade adentrar esse sistema de educação,
devemos transpor a terceira pessoa do discurso e afirmar, a primeira pessoa do plural enquanto
NÓS, pró-nomes pessoais.
Xilogravar...
Quando esse fazer originou-se em nossas existências, não tinhamos ideia do que,
do onde, do quando e do como essas experiências de novas invenções chegariam a
se apresentarem ao mundo.
De atos
em atos, ações em ações, atividades em atividades, trabalhos em trabalhos,
obras em obras, fomos formando diversas conjugações. Jogamos coisas pra fora,
jogamos coisas para dentro, ações externas e ações internas. Conjugações
possíveis de nosso verbo principal: experiMENTAR.
MUITAS VEZES
experimentamos ações ousadas, repetimos em dose dupla, duplicamos.
Original e cópia
Repetimos, e REPETINDO O mesmo descobrimos diferenças.
FAZ PARTE DA LINGUAGEM DA XILO EXTRAIR desigualdades
no que parece ser igual. A isso damos o nome de re-produções, PARECEM SER
IDENTICAS, MAS VISTAS DE PERTO SÃO DIFERENTES. Para nós a diferença tem muito
valor.
TEMPO E ESPAÇO compartilhadOS, muitas Experimentações,
muitas imagens e histórias acolhidas, se pudessemos colocar uma ao lado da
outra, formariamos um grande mapa dOS caminhos e descaminhos percorridos, dos
processos e produtos realizados. SETE anos em que juntos gravitamos
coletivamente.
Desde o ano de 2006 um grupo de pessoas em processo de
cuidado e tratamento, reabilitação e promoção de saúde mental, se reúne todas
as quintas feiras pela manhã para integrar, em coletividade, o ofício de
xilogravar.
O grupo escolheu em votação um nome Coletivo
c.u.p.i.n.s. os cupins = seres vivos que se alimentam de madeira, vivem em
sociedade, trabalham de forma colaborativa, arquitetos natos edificam sua
morada na terra, elevando seu espaço de convívio tanto para baixo, quanto para
cima, tidos como destruidores, na realidade são exímios transformadores da
matéria dentro do processo de reciclagem natural.
Não bastasse
isso o grupo atribui para cada letra um significado
Nós, do C.U.P.I.N.S ( Central Unida de
Pessoas Inventando Novas Saídas) nos afirmamos enquanto um trabalho realizado
na fronteira da clínica ampliada (saúde) e conversamos com questões levantadas
pela arte contemporânea.
temos
verdadeira consideração pelo valor que as imagens disponibilizam quando
expostas para serem visualizadas. Para nós, as imagens revelam, mostram a quem
olha aquilo que é possível ver.
AÇÃO VISUAL= VISUALIZAÇÃO.
OUÇAM VOCÊS: é
PELO olhar, ESSA FORMA DE ATRAVESSAR O ESPAÇO entre O perceber e ser percebido,
É PELO OLHAR que nossa forma de percepção aparente Do mundo pode vir a ser.
É nessa possibilidade de ação no espaço entre o ver e
o pensar, entre o ver e o lembrar, entre o ver e o acolher, entre o ver e o
inquietar, ENTRE O VER E O TOCAR, ENTRE O VER E O OLHAR, ENTRE O PODER VER E O
PODER FALAR...é nessa possibilidade, ou seja é nessE PODER DE ação que
materialmente parte de nossos acontecimentos EXISTEM.
ENTRE O PODER VER E O PODER FALAR os acontecimentos
ganhaM medidas e dimensões. E muitas vezes inauguram em nós novas saídas
ao poder DIVIDIR COM ALGUÉM. DIVIDIR SIGNIFICA SABER CONTAR.
Direito de circular entre o visível e o invisível,
ENTRE O DIZÍVEL E O INDIZÍVEL, ENTRE O
INDIVIZÍVEL e O DIVIZÍVEL, ENTRE O POSSÍVEL E O IMPOSSÍVEL.
Imagens,
matrizes, CÓPIAS, desenhos, projetos,
escritos manuais, SÃO produções QUE
compõem nosso OFÍCIO. TODAS São meios de acesso A CADA UMA DAS PESSOAS DO
COLETIVO, ESSE MATERIAL carrega parte DAS AÇÕES, SÃO registros, HISTÓRIAS DE
parteS daquilo que foi elaborado em experimentações e vivências, demarcações de
quem ali em conjunto compôs , de quem ali abriu passagens narrativas. processos vividos pelos integrantes E SEUS
intermeios, SEUS SUPORTES.
SUPORTES
– SUPORTAR- PORTE- PORTAR- PORTA- madeira.
MADEIRA,
Interface materializadas, matéria para as práticas artísticas e terapêuticas.
As interfaces são como portais, como bordas que
permitem interseções, bordejam experimentações do “pensar/fazer arte-saude”.
bordejam experimentações do “pensar/fazer arte-saude”.
Nessas experiências múltiplas linguagens são
construídas durante o fazer, como se fossem ferramentas
FUNCIONAIS para que uns e outros desenvolvam tantas outras atividades,
outros territórios existenciais.
NOS FAZERES
REALIZAMOS Ocupações de afetos, OCUPAÇÕES de percepções. OCUPAÇÕES de
construções , territórios criados pela interferência, pelA INTERAÇÃO DE modos outros dos sujeitos TORNAREM-SE
agentes ATIVOS.
NÃO APENAS ATIVIDADES, MAS SIM ATIVAÇÕES. ATIVAR AS
AÇÕES DOS SUJEITOS...ATIVAR OS SUJEITOS DAS AÇÕES.
Sobre as imagens FEITAS EM CONJUNTO, é
possível referir que elas apresentam TRAÇOS, GESTOS, GESTUALIDADES E ESTILOS
que remetem a um estado de viver junto, de estar ao lado. Proceder integrativo.
E
cada vez que ISSO se processa outra configuração de novos ou diferentes limites
, É AMPLIADA E REARTICULADA.
AS
IMAGENS SÃO VISTAS COMO espaços de trocas afetivas, ESPAÇOS de implementação e
fortalecimento de vínculos e laços intra e interpessoais, ESPAÇOS DE aproximações e experimentações de modos mais integrativos de estar no mundo. tentativas DE nos constituir EM COLETIVO, PLURALIDADE que SE assume
ENQUANTO lugar DE PRODUÇÃO DE SENTIDOS E DE VIDA, NAS VIDAS de cada um de nós.
AO
ABRIR ESPAÇO PARA UM lugar de utilidade da imagem, PERCEBEMOS QUE ELA calça,
preenche e orbita UMA zona do comum possível, ZONA DO COMUM POSSIVEL QUE
ENFRENTA AS entrelinhas das palavras, ABRE SAÍDAS de extrema importância PARA modoS singularES
de integrar e inventar novas saídas _ criativas_ para impasses existentes No
cotidiano, POR MEIO DE novos modos, meios e
práticas de enfrentamento das adversidades encontradas nos complexos :
doença-pessoa/ limites-possibilidades / impotência-potencialidade /
saúde-recuperação , processoS esseS existenteS nas vidas humanas em geral.
E a questão da arte? Depois de DUCHAMP,
tudo isso entra em jogo pARA possíveis análises empreendidas tanto para as
imagens em si, quanto para as “performances indiscursadas” dos
agentes-criadores durante seus processos criativos. Sejam essas estabelecidas
através de leituras conferidas as obras, ao percurso do coletivo, aos cuidados
exercidos por esses indivíduos em uma
coletividade, seja através da afirmação e apropriação do como (dos modos) suas
ações em suas obras são uma efetivação
dos “cuidados de si” de cada um; sejam através do valer-se ser um corpo
de indivíduos coletivamente em acompanhamento, em processos de criações
constantes do complexo saúde-doença-recuperação/ restabelecimento; seja através
do questionamentos de manifestações de patologias inerentes aos sujeitos em
seus entendimentos sobre eLas em suas existências, ou ainda, em suas visões singulares de mundo dentro de um grupo também singular.
Em
todos essas questões levantadas há um pensar-fazer algo que orbita próximo a
atmosfera artística. Lugar inventivo de afetos e cuja eminência de total
revelação nunca se dá por completo. O exercer das conTATAÇÕES de tais procedimentos, desse fazer-pensar-fazer, podem ser denominados de arte (nem que seja menor).[1]
E ASSIM FICAMOS, Por vezes NUM ESTADO DE leveza surpreendente, por outras de uma
aproximação com o grotesco. Numas os olhos olham para as próprias obras e assim
tem chance de rever traços, riscos, entalhes, debastes, gravidades, gravações,
gestos marcados nas gravuras - uma linha-forma. E quem sabe percebam cores
múltiplas no contraste preto e branco existente entre a tinta e o papel. Ali
vira marca de matriz um arriscar-se, aqui uma forma-área gravitando no cuidado
de não rasgar por completo o ato exercido entre a colher de madeira e a gravura
por se revelar, composições, estágios de espaços negativos e paradoxais que se
completam. Algo sutil, tão sutil que beira por vezes um certo estado grotesco
do ser, um jeito feio no traçado, rápido, tremido, estranho, parecendo não
acabado, imperfeito, torto, sem intenção.. Será o agente que não sabe fazer, ou
quem sabe agir assim seja um estilo remediado? Talvez a medicação seja a
responsável pela causa desse estado ignorado de corpo enrigecido que avança com
a goiva de modo lento quase como se riscasse a gravidade? Talvez o gesto do
traçado seja puro reflexo do vivente e seus sintomas abrindo luz no corpo da
mistura de matérias animal e vegetal? O que sabemos é que em nenhum momento,
esse um jeito de FAZER SER-SE pode ser DESCARTÁVEL enquanto VIDA, enquanto VIVO
Bem,
por fim, as saídas... as saídas frente ao emaranhado multilinear apresentado...
As saídas? Sim, assim como as entradas, são vindas em gestos criativos, sempre.
Gestos que a muito configuram estados do ser humano, gestos que delimitam
corporeidades e corpos , e preferencialmente nos afastam daquele discurso encontrado na separação discriminatória entre
o normal e o patológico, entre arte e não arte, ENTRE SAÚDE E DOENÇA, ENTRE
HUMANO E INUMANO... sempre assim, gestos E OLHARES.
[1] Como nos aponta Beth
Lima através da sugestão de” Pelbart (1998, p.66), o desafio que atravessa o projeto estético
contemporâneo de “presentificar o excesso do impresentificável, utilizando o
informe como indício desse mesmo impresentificável”, pedindo uma estética
fragmentária, complexa, feita de fluxos, atravessa, também, algumas
experimentações estéticas que se fazem na fronteira da clínica ou da patologia
e que evocam dor e colapso, além de metamorfoses e intensidades sem nome. IN:
Por uma arte menor: ressonâncias entre arte, clínica e loucura na contemporaneidade. LIMA, E. M. F. A. Interface - Comunic.,
Saúde, Educ., v.10, n.20, p.317-29, jul/dez 2006.
Comentários